Fernanflor, de Sidney Rocha



Fernanflor, de Sidney Rocha

Livro


Fernanflor é uma epopeia moderna, uma saga que nos transporta para o universo singular de Jeroni Fernanflor. Sidney Rocha constrói esta obra-prima com a precisão meticulosa de um relojoeiro que cria não apenas um instrumento de medição, mas uma peça atemporal que desafia a própria ciência. Este é um relógio que não marca as horas convencionais, mas o tempo interno, aquele que só pode ser sentido e jamais quantificado.

Jeroni Fernanflor, o protagonista, é um artista plástico, um mestre em sua arte, tão invadido pelo silêncio que Sidney consegue fazer o quase impossível: ele escreve o silêncio. E é nesse silêncio que as coisas ganham vida, crescem e se transformam. Ao acompanharmos essa jornada épica, percebemos um murmúrio sutil, o som dos ossos de Jeroni Fernanflor, que, por fim, se mistura ao nosso próprio som, à nossa própria existência.

Jeroni imortaliza os famosos em suas pinturas, mas é a eternidade dele próprio que se solidifica em cada pincelada. Ao longo da narrativa, Sidney Rocha se torna apenas um mediador, um borrão desvanecido, enquanto Jeroni ganha corpo, carne e alma. E é Jeroni quem nos consome, nos engole por completo. Eu fui devorado por ele. Agora estou dentro dele, mas o livro chegou ao fim. E falo dessa tristeza pungente que nos envolve quando fechamos a última página.

Fernanflor é um romance magistral, uma escritura que transcende a literatura convencional. Não é apenas um livro a ser lido, mas um espetáculo a ser vivido, uma experiência que convida à releitura, como quem dá corda a um relógio para assistir ao movimento de suas engrenagens secretas. Destaco, em especial, o capítulo “A ilha”, onde Sidney Rocha não apenas escreve, mas pinta com palavras, criando imagens tão vívidas que se recusam a ficar confinadas ao papel.

Encerrar a leitura de Fernanflor é como sentir o veneno de um escorpião, um remorso, uma tristeza que se instala no peito, lembrando-nos de que, em nosso momento final, o misticismo dará lugar à burocracia. Desejo a todos uma boa leitura. Deixem-se ser engolidos por um vazio maior que o de Jonas.

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