III Seminário

Literatura e Sociedade em Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior


Desde a Antiguidade, quando o preparo do solo para plantar exigia o uso de utensílios agrícolas, o arado foi um dos instrumentos adotados para esse fim, cuja utilização esteve relacionada às ideias de correção, disciplina e retidão. Na Bíblia, Jesus alegorizou as exigências da vocação apostólica com o seu uso, ao lembrar que aquele que dele lança mão no trabalho e olha para trás não é apto para o reino de Deus. A função do arado e o desvio do olhar, impondo aos cristãos a necessidade de não divagar e nem se desviar da direção justa e correta, encontram outros sentidos no livro de Itamar Vieira Júnior. Ao se voltar para um Brasil agrário e profundo, o autor restitui importância ao estigma da desigualdade que grassa em nossa sociedade desde sua formação, destacando outra semântica para a ideia do arado deformado que intitula a narrativa. Desvinculado de uma profissão de fé, com vistas a elevar o espirito, e sem aludir à avaria desse artefato primitivo, que o impossibilitaria de preparar a terra para a semeadura, ele é resgatado esteticamente como uma expressão dolorosa de homens negros e mulheres negras, imersos no sertão baiano à espera das terras da promissão. É atento à representação de uma realidade social tisnada pela injustiça, vocalizada por personagens subalternizados pelo poder do capital e alijados dos direitos mais básicos, que o III Seminário Teorias em Diálogo e o I Colóquio Conversas Paralelas, se propõem a refletir sobre os meandros temáticos e narrativos apresentados na obra. Sintomático de sua relevância para estudar, a partir da literatura, a geografia humana do Brasil, o enredo e a ação em Torto arado elevam a luta, a coragem e a resistência a símbolos que acenam ao presente e ao futuro do país. Não sem razão, a redenção alcançada por Belonísia e Bibiana é tributária não apenas do sagrado que envolvia suas vivências, mas, principalmente, da força da violência que as fazia sobreviver e existir.

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