Solo para vialejo, de Cida Pedrosa

 

Solo para vialejo, de Cida Pedrosa

Livro


Um longo poema épico, matizado por um lirismo que destoa das epopeias clássicas, representativo das inovações formais e estruturais próprias da literatura moderna. Assim pode ser definido Solo para vialejo, eleito o livro do ano pelo Prêmio Jabuti, em 2020. A foto da capa já deixa entrever os seus temas: nela despontam quatro personagens pretos no que seria uma jazz band, imagem ilustrativa da diáspora dos negros e negras que viviam em Bodocó. Na poesia de Cida Pedrosa, o rastro de musicalidade deixado por essa etnia em nossa sociedade guarda estreita relação com a urgência de resgatar as suas memórias.

Unindo lembranças pessoais às de outras pessoas para contar uma história que é de Bodocó, no sertão pernambucano, mas que se relaciona com o mundo, no poema são onipresentes os caminhos feitos por negros, negras e índios rumo ao interior do Nordeste. Nesse mesmo sentido, destaca-se a relação desses homens e mulheres com a música, principalmente, o blues, nascido nos Estados Unidos, na terra gelada dos campos de algodão, rememorado nos campos de algodão nas terras áridas e cinzentas do Brasil.


Em uma bela síntese dessa epopeia mestiça sobre uma viagem em busca da própria identidade, Mariana Ianelli diz que o todo o livro é "um grande poema de redescobrimento que é, para a poeta, um buscar-se a si mesma numa escuta interna, tendo por bússola e amuleto, em viagem ao passado e às notas dos antepassados, uma gaita: 'paraíso perdido prometido', este vialejo azul que a poeta, ainda menina, ganhou do pai e nunca aprendeu a tocar."

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